|
AS QUATRO IRMÃS
Era
uma vez uma mãe que tinha quatro filhas: Margarita, Emília,
Carmem e Maria. As três mais velhas eram preguiçosas,
rudes, e raramente obedeciam à mãe.
Só a mais nova, Maria, fazia o possível para ser
uma filha amorosa.
Um dia, a mãe reuniu as filhas:
- Vocês estão ficando mais velhas e eu também
- falou ela. - Não vou poder tomar conta de vocês
para sempre. Vocês tem que aprender a trabalhar, para algum
dia conseguirem viver por conta própria. Por isso, vou
dar tarefas para cada uma de vocês. Margarita, você
tira poeira e teias de aranha. Emília, você varre
o chão. Carmem, você passa o ancinho no quintal.
E você Maria, rega o jardim.
Mas Margarita, a filha mais velha, emburrou:
- Poeira? Eu é que não vou mexer com poeira! -
falou, num pio debochado. - Preciso dormir meu sono de beleza.
Fez a mala e saiu de casa, para encontrar um lugar calmo onde
deitar a cabeça.
Emília, a filha seguinte, jogou os braços para
cima, andando em círculos:
- Quem disse que eu sei varrer? - gritou grosso. - Tenho certeza
de que nem consigo aprender. Vou passear no campo, lá
é muito mais agradável.
Fez a mala e saiu de casa.
Carmem, a filha seguinte, bateu os punhos na mesa:
- Eu também não sei trabalhar! - gritou fino. -
Tenho coisa melhor a fazer, sabe? Vou me mudar para a cidade,
onde as pessoas sabem se divertir.
Ela também fez as malas e saiu de casa de cara feia.
Só Maria a mais nova, sorriu.
- Não se preocupe, mamãe - disse -, vou trabalhar
no jardim, plantar o máximo de flores que couber e vendê-las
no mercado da cidade. Desse modo, posso ficar aqui tomando conta
de você enquanto for envelhecendo.
O tempo passou e Maria manteve a palavra. O jardim floresceu,
assim como seu comércio no mercado, e ela ganhava dinheiro
bastante para proporcionar algum conforto à mãe.
Mas, finalmente, a mãe sentiu que sua hora havia chegado.
Pediu a Maria que encontrasse as irmãs, para poder despedir-se
delas.
Maria encontrou Margarita adormecida nas sombras da floresta.
- Mamãe está doente e pede para você ir lá
em casa - disse ela.
- Agora , eu estou dormindo - Margarita bocejou. - Ainda está
muito cedo. Diga a ela que vou mais tarde.
Maria encontrou Emília perambulando pelo campo, procurando
no chão algum alimento nos restos das colheitas.
- Não tenho tempo para ir lá em casa - disse ela.
- Espero conseguir catar alguma coisa para jantar.
Maria encontrou Carmem andando pelas vielas e ruelas da cidade,
batendo de porta em porta, pedindo sobras.
- Agora eu não posso ir lá em casa - resmungou
ela -, ninguém está generoso hoje. Preciso continuar
batendo para poder comer. - E virou as costas para bater em outra
porta.
Maria voltou para a mãe, que lamentou os destinos das
filhas.
- Minha Margarita vai viver na escuridão da floresta pelo
resto da vida, dormindo pelos dias a fora - ela chorava. - Minha
Emília vai passar a vida perambulando sem rumo, satisfazendo-se
com o que catar pelo chão. MInha Carmem vai ficar batendo
sem parar nas portas pelo resto da vida, procurando sobras. Só
você, Maria, vai ser bem-vinda e amada por todos.
A velha mulher fechou os olhos e suspirou pela última
vez.
E sua profecia se realizou.
Depois da sua morte, Margarita se transformou numa coruja, que
até hoje mora nas partes mais escuras da floresta, dormindo
pelos dias a fora.
Emília se transformou num feio abutre, que voa em círculos
nos céus do campo, procurando no chão qualquer
coisa para comer.
Carmem se transformou num pica-pau, que até hoje se escuta
batendo e batendo o dia inteiro, procurando restos.
Quanto à pequena Maria, ainda trabalha duro no jardim,
cuidando das suas flores, bebendo o néctar de seus copos
de seda. E aonde quer que vá, é bem-vinda e amada,
pois Maria transformou-se num beija-flor.
(Extraído do Livro das Virtudes de Willian J. Bennett
- Editora Nova Fronteira)
|