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DEUS PROVERÁ
Uma
manhã, logo ao nascer do sol, dois fazendeiros vizinhos
saíram para o mercado da cidade. Suas carroças
estavam abarrotadas de tomates que iam amadurecer rapidamente
ao sol do meio-dia. Por isso, conduziram os cavalos com firmeza
a manhã toda, para que a carga não estragasse no
caminho.
Porém, ao atingirem o morro mais íngreme dos arredores
da cidade, os pobres animais já estavam exaustos e, por
mais que se esforçassem, não conseguiam vencer
a subida. As carroças ficaram ao pé do morro, sob
o sol impeidoso que se erguia no céu.
- Não podemos fazer nada; eles precisam descansar - disse
o primeiro fazendeiro, dando de ombros. - Pensando bem, eu até
que poderia aproveitar e tirar uma sestazinha... Já estamos
na estrada desde a aurora. Acho que vou me deitar um pouco à
sombra desta árvore.
- Que é isso? Você não pode! - exclamou o
companheiro. - Quando você acordar, sua carga vai estar
arruinada!
- Não se preocupe, meu amigo. Deus proverá. Ele
sempre ajuda. Vou fazer umas oraçõezinhas antes
de tirar o cochilo.
E rolou de lado, bocejando.
O segundo fazendeiro, enquanto isso, andou até a traseira
da sua carroça, encaixou os ombros na madeira e tentou
empurrar, fazendo o máximo de força. Gritava para
seu cavalo andar, mas não andiantava nada. Empurrou até
as veias saltarem no pescoço, praguejando a plenos pulmões,
mas a carroça não subiu nem um centímetro.
Nesse momento, o Senhor e São Pedro passaram pela estrada,
como faziam às vezes, nos seus passeios terrestres de
vistoria do que se passava nos corações humanos.
O Senhor viu o desvairado fazendeiro, praguejando na luta pela
sua carga. Sorriu e pousou a mão na roda da carroça,
que instantaneamente subiu ao topo do morro.
O Senhor prosseguiu com São Pedro ao lado. O olhar do
Porteiro do Céu baixou, como se refletisse sobre cada
passo que davam.
- Não compreendo - disse por fim. - Por que você
ajudou aquele homem? Mesmo quando nos aproximamos, ele continuou
praguejando da forma mais irreverente! E, contudo, você
não ajudou o amigo dele, que ofereceu preces por Sua ajuda.
O Senhor sorriu.
- O homem que eu ajudei praguejava, é verdade, mão
não de coração. Aquilo era apenas a maneira
de ele falar com o cavalo. No coração, ele estava
pensando amorosamente na mulher, nos filhos e nos pais idosos,
que dependem do seu trabalho e precisam que ele volte com algum
lucro pelo seu esforço. Ele seria capaz de passar o dia
todo lá, empurrando. Seu amigo, por outro lado, só
me chama quando acha que precisa de mim. O que ele estava pensando
era em dormir mesmo. Então, que tire o seu cochilo.
(Extraído do Livro das Virtudes de Willian J. Bennett
- Editora Nova Fronteira)
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Mágica
by Leandro Amaral e Ricardo Namur
Ilustrações em aquarela: Sérgio Ramos |