Era uma vez... 


@ A VELHINHA E O GNOMO

lualuaO povo da cidade de Cracóvia, na Polônia, gosta muito de contar essa história. Dizem que, nos arredores da cidade, vivia uma senhora, Tatiana Kirillovna Roeslanova, de mais de setenta anos, mas cujos traços eram ainda muito bonitos. Costumava pentear os cabelos branquinhos sempre repartidos ao meio. O marido morrera e ela ficara muito pobre. Além disso, fora proibida de trabalhar na cidade e, para sobreviver, conseguiu comprar uma vaca com o dinheiro que alguns amigos arrecadaram em segredo.

Tatiana fornecia leite para dez famílias nos arredores da cidade. Essas, se não fosse por ela, precisariam andar tanto até a cidade que quando chegassem em suas casas o leite já estaria estragado. Tatiana morava numa choupana no meio de uma horta e passava os dias cuidando de sua vaquinha, levando-a para pastar às margens da estrada.
E, assim, Tatiana levava sua vidinha. Durante o dia, cuidava de sua querida vaquinha e à noite trazia-a para dentro da choupana, onde num dos cantos a ordenhava. Do outro lado da cabana, Tatiana guardava inúmeras imagens de santos, que conseguira trazer de sua casa em Moscou, e rezava para eles com bastante devoção.
A vaca dava vinte litros de leite por dia, exceto por um período de seis semanas quando ficava esperando um bezerrinho. Por causa disso, Tatiana economizava bastante durante o ano para poder sobreviver durante as seis semanas que ficava sem leite.

Embora tivesse sido muito rica em sua terra natal, Tatiana era uma pessoa muito resignada e aceitava sua sina sem reclamar. Estava sempre à procura de novas pastagens, para que a vaquinha fizesse uma boa alimentação. Às vezes, ia até bem longe, mas geralmente voltava para casa pelo mesmo atalho. Bem no meio daquele bosque, haviam algumas pedras enormes e embaixo delas viviam duas famílias de gnomos, cujos filhos já eram quase adultos.
Todos os dias, Tatiana parava naquelas pedras e retirava debaixo dos arbustos uma linda jarrinha, bem pequenininha, e a enchia de leite que tirava na hora, colocando-a em seguida no mesmo lugar. Durante o ano inteiro, com frio, chuva, vento ou sol, ela deixava a jarrinha cheia de leite para os gnomos.

Uma noite, ao fechar as janelas de sua cabana, Tatiana escorregou, caiu e quebrou o tornozelo. Com muita dificuldade, arrastou-se até a cama e deitou. No dia seguinte, ainda com muitas dores, conseguiu levantar-se para ordenhar a vaquinha, que, no fim daquela tarde, começou a mugir de fome, embora ela lhe tivesse alimentado com todo o pão que havia na casa.
No outro dia, um de seus vizinhos avisou o Serviço de Saúde da cidade e logo depois chegou uma ambulância em sua casa. Um médico mal-encarado examinou o tornozelo da pobre velhinha e com o auxílio de um enfermeiro carregou-a até a ambulância para levá-la ao hospital. Ela suplicou-lhes para que fizessem alguma coisa por sua vaquinha, mas ambos deram de ombros e seguiram para a cidade.

No hospital, Tatiana estava desesperada por causa do animal. Pedia a todos que a ajudassem, mas ninguém se comoveu com o drama da pobre velhinha. Engessaram-lhe a perna e disseram-lhe que teria de ficar hospitalizada por oito semanas, pois a fratura era muito séria. Tatiana entrou em pânico, achando que quando finalmente saísse de lá, sua querida vaquinha já teria morrido de fome.

Após o crepúsculo do segundo dia, após o acidente, a porta da choupana se abriu e a vaca foi para fora, seguida por um gnomo que a levou até os melhores pastos ao longo da estrada. Pouco antes do dia nascer, a vaquinha voltou.
Enquanto isso, todos os baldes vazios dos fregueses de Tatiana foram recolhidos, bem como o dinheiro deixado para o pagamento do leite. Os gnomos mais fortes ordenhavam a vaquinha dentro da casa, enquanto que o restante da família tratava de encher os baldes e levá-los até as casas dos frequeses antes do nascer do sol.

Quando Tatiana voltou para casa, oito semanas depois, e com a perna ainda engessada, começou a chorar novamente. Desta vez, não de tristeza ou preocupação, mas de alegria e gratidão. Num canto, a vaquinha, forte e sadia, e, sobre a mesa, o dinheiro de oito semanas de fornecimento de leite, cuidadosamente arrumado em montinhos.
Quando foi dormir naquela noite, ela começou a pensar, e acabou falando em voz alta, como
iria fazer para levar a vaquinha até o pasto na manhã seguinte.
- Não será preciso - disse-lhe uma vozinha vinda de trás. E quando ela se virou, viu cinco gnomos ao lado de sua cama.
- Viemos buscar a vaca - disse o mais velho, olhando para a perna engessada da velhinha - Nem pense em andar por enquanto. A senhora precisa de muito repouso, trate de dormir, nós faremos o resto. Esperamos que não se incomode que continuemos enchendo nossa jarrinha também.

Ainda rolavam-lhe as lágrimas na face de tanta felicidade, quando os gnomos rapidamente recolheram os baldes e levaram a vaquinha para o pasto.


Extraido do Livro: GNOMOS de Wil Huygen e Rien Poortvliet - Editora Siciliano.



Para saber mais sobre os Gnomos, clique no desenho ao lado.










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©1997-2002, Chave Mágica
by Leandro Amaral e Ricardo Namur
Ilustrações em aquarela: Sérgio Ramos