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UM SOM POR UM PERFUME
Um
pobre viajante parou ao meio-dia para descansar à sombra
de uma frondosa árvore. Ele viera de muito longe e sobrara
apenas um pedaço de pão para almoçar. Do
outro lado da estrada, havia um quiosque com tentadores pastéis
e bolos; o viajante se deliciava sentindo as fragrâncias
que flutuavam pelo ar, enquanto mascava seu pedacinho de pão
dormido.
Ao se levantar para seguir caminho, o padeiro subitamente saiu
correndo do quiosque, atravessou a estrada e agarrou-o pelo colarinho.
- Espere aí!- gritou o padeiro. - Você tem que pagar
pelos bolos!
- Que é isso? - protestou o espantado viajante. - Eu nem
encostei nos seus bolos!
- Seu ladrão! - berrava o padeiro. - É perfeitamente
óbvio que você aproveitou seu próprio pão
dormido bem melhor, só sentindo os cheirinhos deliciosos
da minha padaria. Você não sai daqui enquanto não
me pagar pelo que levou. Eu não trabalho à toa
não, camarada!
Uma multidão se juntou e insistiu para que levassem o
caso ao juiz local, um velho muito sábio.
O juiz ouviu os argumentos, pensou bastante e depois ditou a
sentença.
- Você está certo - disse ao padeiro. - Este viajante
saboreou os frutos do seu trabalho. E julgo que o perfume dos
seus bolos vale três moedas de ouro.
- Isso é um absurdo! - objetou o viajante. - Além
disso, já gastei meu dinheiro todo na viagem. Não
tenho mais nenhum centavo.
- Ah... - disse o juiz. - Neste caso, vou ajudá-lo.
Tirou três moedas de ouro do próprio bolso, e o
padeiro logo avançou para pegar.
- Ainda não - disse o juiz. - Você diz que esse
viajante meramente sentiu o cheiro dos seus bolos, não
é?
- É isso mesmo - respondeu o padeiro.
- Mas ele não engoliu nem um pedacinho?
- Já lhe disse que não.
- Nem provou nenhum pastel?
- Não!
- Nem encostou nas tortas?
- Não!
- Então, já que consumiu apenas o perfume, você
será pago apenas com som. Abra os ouvidos para receber
o que você merece.
O sábio juiz jogou as moedas de uma mão à
outra, fazendos-as retinir bem perto das gananciosas orelhas
do padeiro.
- Se ao menos você tivesse a bondade de ajudar esse pobre
homem em viagem - disse depois o juiz -, você até
ganharia a recompensa em ouro, no céu.
(Extraido do Livro das Virtudes de Willian J. Bennett - Editora
Nova Fronteira)
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