Era uma vez... 


@ NATAL NA FLORESTA DE CEDROS

Há muitos e muitos anos atrás, numa época onde o Papai Noel não existia nem como lenda, nem como realidade, a "Floresta dos Cedros" servia de morada para Gnomos e Anões que partilhavam da proteção e magia das árvores centenárias.
Eram duas comunidades bem distintas tanto na aparência física, quanto nos hábitos:
Os Gnomos são pequeninos, tem uns 15 cm de altura e utilizam um chapéu de formato cônico. Os "homens" usam chapéus vermelhos e as "mulheres", chapéus verdes. Gostam de fazer suas casas sob a raiz das árvores. Só tem filhos uma vez na vida, e sempre é um casal de gêmeos.
Os Anões já são bem maiores, chegam a ter quase um metro de altura, são barrigudos e adoram comer. Suas casas são muito bagunçadas, mas sempre abertas aos visitantes.

O mês era Dezembro, e os ventos frios prometiam um Natal com muita neve.
Todos estavam ansiosos pela ceia de Natal.

- Boa noite, mamãe - disse Danilo, um anão, que se preparava para dormir.
- Boa noite filhinho!, durma bem - disse sua mãe Irene, enquanto carinhosamente lhe beijava a testa.

Não muito longe dali...
- Boa noite, mamãe - disse Ricardo, um gnomo, que já estava caindo de sono.
- Boa noite, filhinho! Durma bem! - disse sua mãe Dalva, enquanto ajeitava a coberta sobre ele.

Esses eram dois amigos que se conheciam desde pequenos. Sempre inseparáveis, nas brincadeiras pela floresta, nas travessuras, e mesmo nos problemas, um ajudava o outro. Era uma amizade especial, verdadeira e admirada por todos.

Nessa noite, 23 de Dezembro, Danilo sonhou com um velho dizendo se chamar Veynar...:
- Venha até a Montanha de Urze, amanhã à meia-noite e não falte. O destino de todos depende de você.
Pela manhã, Danilo acordou ansioso para contar o estranho sonho para seu amigo Ricardo. Tomou o café-da-manhã rapidinho, e saiu correndo...
Como eles moravam bem perto, logo ele viu a mãe de Ricardo, na frente da casa, ganhando algumas nozes de dois esquilos.
- Bom dia Dona Dalva, o Ricardo já acordou?
- Já sim...., e....
- Já tô indo !!! - respondeu o gnomo ansioso, colocando a cabeça para fora de uma das pequenas janelinhas da casa.
Foi só ele sair lá fora, que Danilo o agarrou pelas mãos e saiu correndo.
- Nossa, Danilo, porque a pressa? - diz o gnomo enquanto segurava o chapéu.
Danilo, continuava correndo, e só respondeu com um sinal que não podia falar ainda.
Logo se afastaram da clareira onde viviam, então Danilo parou atrás de uma árvore e sussurrou baixinho:
- Ontem eu tive um sonho muito estranho!
- Vo...você também? - disse Ricardo.
- Como assim, "você também" ! - O que você sonhou ? - perguntou o anão assustado.
- Bem, já que você começou com isso, conte o seu primeiro.
Danilo começou a contar o que tinha sonhado e a cada palavra, Ricardo ficava cada vez mais assustado. No final ele engoliu em seco e disse:
- Você não vai acreditar mas eu tive o mesmo sonho...
- E agora, o que vamos fazer? - disse o anão que já conhecia muito bem o amigo para adivinhar a resposta.
- Bem, eu acho que nós devemos ir, para ver se é verdade, ou se tudo isso não passou de um sonho estranho.
- Obaaaa!, uma aventura de verdade - disse o anão empolgado.
Os dois passaram o dia pensando num plano para saírem de casa tão tarde da noite. Quase nem comeram nada durante o dia, pois a ansiedade era grande.
No meio da tarde, enquanto brincavam um pouco, algo estranho começou a acontecer. A floresta silenciou totalmente, o céu começou a escurecer e o vento soprava de forma assustadora. Todos correram para suas casas, pois parecia que se aproximava um temporal. Ficou praticamente de noite e começou uma tempestade como ninguém da "Floresta dos Cedros" já havia visto antes.
Danilo acompanhou o Ricardo até sua casa, e na despedida o gnomo falou:
- Às 23 horas a gente se encontra próximo ao "Carvalho Rabugento", mesmo que a tempestade continue, pois tenho um pressentimento de que tudo isso realmente é verdade.
- Combinado, amigo. Até depois !!!

E como era de se esperar, a tempestade realmente não parou e parecia cada vez mais forte. Mesmo assim, os dois se encontraram no local marcado e começaram a caminhar em direção à Montanha de Urze, que ficava fora dos limites da "Floresta dos Cedros". Muitos galhos quebrados, folhas, vento, chuva, mas nem isso foi suficiente para detê-los em sua jornada.
- Danilo, a tempestade está muito forte !!! - Como vamos achar esse tal de Veynar?
- Não tenho a menor idéia !! - Espero que estejamos no caminho certo.
De repente, no meio de toda aquela escuridão que era iluminada somente pelos relâmpagos...
- Veja Ricardo, uma luz. - Quem sabe encontramos alguém que possa nos ajudar.
Era uma casa muito modesta, e quando eles se aproximaram, a porta abriu repentinamente, e eles viram o vulto de um velho, que disse numa voz conhecida para ambos:
- Eu sabia que podia contar com vocês, entrem... Não temos muito tempo...
Os dois olharam assustados um para o outro pois já sabiam quem era aquele ancião..., mas mesmo assim...
- Estamos procurando um velho chamado Veynar, o senhor conhece ?
O velho sorriu e disse:
- Parece que já o encontraram, pois eu sou Veynar, e preciso muito da ajuda de vocês.

Os dois se olharam e antes que dissessem algo, Veynar continuou:
- Nós temos pouco tempo, mas preciso lhes contar
uma história. - Sentem-se próximo a lareira, pois vocês estão muito molhados.
Os dois estavam sem palavras, mas curiosos para ouvir a história, então se sentaram e Veynar começou:
- Há incontáveis anos atrás, havia um ser que era conhecido como o "Espírito de Natal". Ele percorria o mundo trazendo sempre alegria e presentes. Mas, certo dia, Kyllmor, uma poderosa força do mal, lançou uma maldição e aprisionou o "Espírito de Natal" dentro de uma árvore nessa floresta. Os anos se passaram e estudando alguns livros mágicos, descobri que existe um momento em que nós podemos libertá-lo. A cada 700 anos à meia-noite do dia 24 de Dezembro do ano em que as constelações e os planetas estiverem alinhados como estão hoje, se duas pessoas unidas por um sentimento puro, tocarem a árvore, o "Espírito de Natal" será libertado. Eu tenho acompanhado vocês por muitos anos e sei da pureza do sentimento que os une.

Nesse momento os dois se olharam orgulhosos em serem amigos.
Veynar continuou...
- Quando eu os avisei em seus sonhos, Kyllmor descobriu e lançou essa tempestade para tentar detê-los, mas felizmente a força de vontade de vocês foi maior.
- E onde está essa árvore? - perguntou Danilo impaciente.
- Ela está a alguns metros da minha cabana. - Bem..., isso quer dizer que vocês vão me ajudar? Ricardo olhou para o Danilo, e os dois responderam juntos:
- Pode contar conosco!

Veynar, suspirou aliviado e disse:
- Então vamos, pois nosso tempo é curto.

Saíram da cabana e a tempestade estava pior do que antes. A árvore realmente estava bem próxima, e quando se aproximaram, Veynar fez um sinal para que eles esperassem um pouco.

Ficaram aguardando por alguns instantes, mas logo ele disse com uma voz forte:
- Está na hora!. Toquem juntos o tronco da árvore e pensem na amizade de vocês.
Quando eles a tocaram, algo mágico começou a acontecer. A tempestade parou imediatamente e as nuvens libertaram o céu que rapidamente ficou decorado com o brilho das estrelas. De repente uma luz verde, suave e brilhante, começou a envolver a árvore e os dois amigos. Eles ficaram imóveis, somente observando. Quando..., um vulto surge de dentro da árvore.

Os dois se afastaram um pouco assustados e observavam o "ser". Ainda não era possível ver o seu rosto, pois a luz estava muito forte, mas...
- Você está vendo o que eu estou vendo? - perguntou Danilo bem baixinho.
- Hum, Hum! - disse Ricardo que nem conseguia falar direito.
Nesse momento Veynar se aproximou e disse:
- Finalmente estou livre.
Então ele se aproximou do vulto, e quando o tocou, os dois se tornaram um.

O gnomo e o anão estavam atônitos.
- Não tenham medo, meus amiguinhos, eu sou Veynar, o "Espírito de Natal". Uma parte de mim ficou aprisionada nessa árvore por incontáveis anos, mas graças a vocês finalmente o Natal será muito diferente. - Sou eternamente grato - disse ele enquanto se curvava para fazer uma reverência.
O gnomo e o anão estavam impressionados com tudo aquilo, e tinham muitas perguntas para fazer, mas não conseguiam fazer nenhuma. Veynar então os abraçou e disse:
- Meus amiguinhos, voltem agora para suas casas, pois seus pais devem estar preocupados. Logo estarei com vocês. - disse Veynar sorrindo.
Os dois concordaram e vieram o caminho todo conversando sobre tudo o que tinha acontecido.
Como a tempestade já tinha passado, quando eles chegaram na clareira, gnomos e anões estavam comemorando o Natal.
Irene e Dalva estavam realmente preocupadas e quando viram os dois chegando correram para abraçá-los; mas logo quiseram saber tudo o que tinha acontecido e onde estiveram todo esse tempo.
Todos se aproximaram e então os dois começaram a contar o que tinha acontecido.

Algum tempo depois..., Veynar chegou até a clareira...

- Olhem! - Deve ser o tal "Espírito de Natal" - disseram todos.
- Boa noite amigos! - Meu nome é Veynar. - Parece que vocês já sabem quem eu sou..., he! he! - diz ele enquanto olhava para Danilo e Ricardo, e sorria.

Veynar sentou-se e fez um sinal com a mão, para que Danilo e Ricardo se aproximassem. Todos ficaram em silêncio, somente observando.
- Me dê a sua mão Ricardo.
O gnomo hesitou um pouco e pensou em perguntar porque, mas não disse nada. Então ele se aproximou
de Veynar, que segurou sua mão por alguns instantes e sorriu para ele.
- Agora é sua vez, Danilo.
Veynar segurou a mão do anão, sorriu também e disse:
- Agora, fechem a sua mão direita e pensem no que vocês mais gostariam na vida.
Os dois estavam muito emocionados. Fecharam a mão e pensaram...
O silêncio só foi interrompido pela voz de Veynar...:
- Podem abrir as mãos.

Quando eles abriram as mãos, havia um anel que emanava um brilho prateado como a luz da lua, gravado com símbolos mágicos da cor da noite.

- Nossa Veynar, que bonito! - disse Ricardo, enquanto admirava os símbolos.
- Muito obrigado, é lindo - disse Danilo também impressionado.
Veynar sorria para os dois, mas parecia estar escondendo algo mais...
Quando os dois resolveram colocar os anéis em seus dedos, uma luz brilhante os envolveu e algo extraordinário aconteceu..
Danilo ficou do tamanho de um gnomo e Ricardo ficou do tamanho de um anão.
- Agora, se apenas um de vocês tirar o anel, poderão realizar o maior sonho de suas vidas....

A emoção era muito grande pois eles sabiam o presente que tinham ganhado, e lágrimas de alegria corriam em seus rostos.
Foi então que Danilo tirou o seu anel, e voltou novamente a ter o tamanho de antes. Nesse momento o sonho dos dois se realizou, quando num momento sem palavras, os dois se abraçaram tendo o mesmo tamanho.

Depois disso houve muitos abraços "grandes" e "pequenos". Danilo pode conhecer a casa de Ricardo, e puderam brincar muito mais do que antes.

Mas, vocês devem estar perguntando...e Veynar ???

Bem..., acho que todos nós sabemos o que ele tem feito na noite de Natal... Com a ajuda dos gnomos e anões da Floresta dos Cedros, Veynar continua trazendo na Noite de Natal, felicidade, magia e presentes para todos nós.




Autor : Ricardo Namur Claro

Gostaria de agradecer à minha esposa Rita Aubim pela inspiração e amor para escrever esse Conto de Natal, e ao meu amigo Danilo de Oliveira Cesquim, pela amizade e amor, que fazem cada dia comum, tornar-se uma aventura mágica.
Uma homenagem especial à Irene, mãe do Danilo, e à minha mãe Dalva.

 


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©1997-2002, Chave Mágica
by Leandro Amaral e Ricardo Namur
Ilustrações em aquarela: Sérgio Ramos